O vencedor usa a cabeça; o perdedor, o coração. Na ânsia de vencer, o perdedor substitui a razão pela emoção, os nervos falam mais alto e o resultado é o fracasso.
Fabiana Murer (do salto com vara) desistiu da Olimpíada de Londres com a seguinte desculpa: “Comecei a correr e senti um vento forte. Era até perigoso me machucar se tentasse” (que vento foi esse...). Na Olimpíada de Pequim, Murer alegou que suas varas desapareceram (Sem comentários...). No hipismo (Olimpíada de Londres), o cavaleiro José Roberto Reynoso justificou o fracasso assim: “A cultura europeia é voltada para o cavalo, no Brasil a pessoa é voltada a ter cachorro em casa” (o que ele quis dizer?)
O ginasta Diego Hypólito, na Olimpíada de Pequim, após liderar a fase de classificação, era favorito ao ouro. Contudo, na decisiva fase, caiu com a conjuminância retroativa (nádegas) esparramada ao solo. Na Olimpíada de Londres, o tombo foi de barriga. Sim, ele terminou sua apresentação em um incômodo decúbito ventral. Depois de mais um fracasso, vieram as desculpas.
Não é o vento, não é a cultura brasileira voltada para a criação da raça canina, nem as hilárias desculpas que se ouvem por aí, mas sim a falta de equilíbrio emocional que faz nossos atletas tremerem, mormente quando disputam competições que chamam a atenção do mundo, como Copa do Mundo e Olimpíada.
Qualquer ser humano está propenso a embaraços emocionais (o brasileiro com intensidade maior), é por isso que o psicólogo americano Daniel Goleman sugere que a inteligência emocional seja matéria obrigatória nas escolas. Para Goleman, inteligência emocional “é a capacidade de criar motivações para si próprio e de persistir em um objetivo apesar dos percalços; de controlar impulsos e saber aguardar pela satisfação de seus desejos; de se manter em bom estado de espírito e de impedir que a ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; de ser empático e autoconfiante.”
Os competidores brasileiros sabem buscar motivação e persistir nos objetivos; porém é raro quem saiba evitar que a ansiedade interfira no desempenho. Essa deficiência é notória; por isso, inúmeras competições foram perdidas, embora eles fossem favoritos. No futebol, se não fosse o desequilíbrio emocional, o Brasil já teria ganhado mais de dez Copas do Mundo.
O problema costuma atacar os favoritos, porque se trata de abalo emocional decorrente do medo de perder. A pessoa fica tão ansiosa para ganhar que morre de medo de perder e acaba “amarelando” na hora da disputa. Conheço bem o problema porque tive de enfrentá-lo e superá-lo. No meu caso, a competição não era esportiva, mas intelectual: competição nos concursos públicos.
A competição nos concursos, nesse particular, é igual às competições esportivas (no primeiro concurso fui reprovado quatro vezes seguidas. Depois que passei a controlar os nervos, minha performance mudou completamente). Nos concursos, assim como em qualquer competição, a tranquilidade na hora do exame é fundamental, pois o embaraço emocional prejudica o raciocínio, instrumento indispensável para o êxito na empreitada.
Para superar o problema desenvolvi duas estratégias dentro do contexto da inteligência emocional. A primeira denominei de estratégia mental defensiva, que consiste no treinamento mental que valoriza as coisas boas e relativiza as ruins. É que a vida é constituída por coisas boas e ruins. A estratégia mental defensiva valoriza as coisas boas e minimiza ao máximo as ruins. Dessa forma, a pessoa consegue superar problemas como morte na família, doenças, prejuízos, acidentes, perseguições etc. sem se abalar e, com isso, não abandona o seu objetivo.
A estratégia mental defensiva é essencial na fase da preparação para a competição. Seu implemento neutraliza os problemas para não interferirem no treinamento (estudos, exercícios etc.). A outra estratégia que adoto é a mental ofensiva. Esta tem por escopo tranquilizar o competidor na hora da disputa, pois elimina o medo de perder. Como visto, é o medo da derrota que faz o competidor ficar nervoso. É esse medo que atormenta nossos atletas, levando-os ao fracasso, quando tinham tudo para vencer. O mesmo acontece com muitos concurseiros. Eles se preparam intensamente, mas na hora da prova “amarelam” e perdem a vaga para candidatos que nem estavam bem preparados.
Passei em primeiro lugar em concursos que não tive tempo e nem oportunidade para me preparar melhor. Sei que havia candidatos melhores preparados, todavia, na hora da prova eu os superei, pois não sofria interferência dos nervos. É que o implemento da estratégia mental ofensiva proporciona o trabalho com a cabeça (neurônios) e não com os nervos. Por falar em cabeça, o medalhista de ouro nas argolas (Olimpíada de Londres), Arthur Zanetti, declarou: “Cabeça é o que faz a diferença entre o campeão e os outros.”
As estratégias mentais funcionam de verdade, permitindo ao indivíduo o controle emocional em qualquer situação. Por isso, no meu livro De Faxineiro a Procurador da República, reservo boa parte para explicar como implementá-las. Ensino que o competidor (atleta ou concurseiro) precisa ser “frio e calculista” (no bom sentido). Não deve se abater com os percalços e nem “amarelar” na hora da competição.
Além de o brasileiro ser emotivo por natureza, diferentemente, por exemplo, do alemão, é raro quem sabe dominar a emoção. Vi declaração de ex-atleta brasileiro que se tornou comentarista dizendo que não sabia o que fazer no dia anterior à importante competição. Sofria com ansiedade até a hora da disputa. Já vi treinadores dando ordens a seus atletas em absoluto descompasso com os princípios norteadores do controle emocional.
Pelo resultado que se vê no comportamento dos atletas brasileiros, os profissionais (psicólogos etc.) a serviço deles não têm obtido êxito, basta ver que é raro algum atleta que domina a emoção. Por exemplo, foi destaque na imprensa a “frieza” da judoca piauiense Sarah Menezes, medalha de ouro em Londres. Comportamento desse jaez deveria ser regra entre os atletas de alto nível, pois quem compete para vencer tem que ser “frio e calculista”, ter controle efetivo sobre as emoções. Não adianta só a preparação física e/ou intelectual, é imprescindível a preparação emocional.
A necessidade de dominar as emoções não se limita a quem participa de competições esportivas ou concursos públicos, mas a todos que vivem em sociedade. Afinal, nas relações sociais passamos por diversas situações que reclamam domínio da emoção, é por isso que Daniel Goleman sugere que a inteligência emocional seja matéria obrigatória nas escolas.
Dominando as emoções, convivemos bem com os altos e baixos da vida. Ademais, enfrentamos o perigo com coragem, porquanto o medo é uma emoção negativa que deve ser controlada; caso contrário, nos acovardamos, seja “amarelando” na hora de uma competição, seja fugindo ou recuando diante de qualquer sinal de perigo.
Manoel Pastana